Caminhos à Santiago

Você pode cruzar a Espanha de norte a sul, de leste a oeste ou pelo litoral. Também pode incluir Portugal no roteiro. Conheça as principais rotas que levam até Santiago de Compostela
Escrito por: Mônica Cardoso


O Caminho de Santiago é um e ao mesmo tempo são vários. Cada rota guarda surpresas aos peregrinos, que costumam dizer que o percurso começa na porta de casa, onde quer que seja.
E o ritual é o mesmo, desde a Idade Média: chegar à Praça do Obradoiro onde fica a bela catedral, abraçar a estátua do santo e fazer uma oração em seu túmulo. Escolha o seu caminho e pé na estrada.

Caminho Francês

SXC
Planícies douradas da região de Léon

A rota francesa é o trajeto preferido pelos peregrinos. Para ela, confluem diversas rotas provenientes do restante da Europa.  São cerca de 800 quilômetros, atravessando o nordeste da Espanha. Ele oferece a melhor infraestrutura, com bom número de opção de hospedagens.
Não há um ponto de partida definido, mas a maioria dos andarilhos sai do povoado francês de Saint-Jean-Pied-de-Port, bem na fronteira entre França e Espanha. Em seguida, o percurso entra no território espanhol pelo vilarejo de Roncesvalles, com apenas 30 habitantes, e continua em direção oeste até Santiago de Compostela.
Logo no primeiro dia do trajeto, o trecho de 23 quilômetros entre Saint-Jean-Pied-de-Port e Roncesvalles exige bastante do peregrino. Será preciso cruzar os Pirineus, com subidas íngremes e descidas abruptas. Por esse motivo, muitos preferem iniciar o percurso em Roncesvalles, já do lado espanhol.
Seja qual for a opção, siga a antiga tradição medieval e participe da missa solene que acontece diariamente às 20 horas na igreja da Real Collegiata de Roncesvalles. Erguido no século 12 como um dos primeiros hospitais aos viajantes, o conjunto inclui uma igreja, onde vivem menos de dez religiosos, e um refúgio exclusivo aos peregrinos.
A rota francesa leva pouco mais de um mês para ser concluída, com cerca de 30 paradas em cidades e povoados. O número varia de acordo com cada guia ou mapa, mas depende, sobretudo, da condição física e do interesse do peregrino em prolongar sua estadia.
Veja o info e conheça algumas curiosidades nos principais pit stops.

Caminho aragonês


Castelo de Javier, em Navarra, preserva suas muralhas do século 10

O Caminho Aragonês, com cerca de mil quilômetros, é o segundo mais procurado pelos peregrinos. Ele começa em Somport, nos Pirineus, a 1.600 metros de altitude, e segue margeando o Rio Aragón. Aliás, o rio raso e com largas margens será o fiel companheiro do peregrino.
O itinerário percorre montanhas, bosques, pradarias, campos áridos e antigas fortificações. As ruínas de povoados antigos e até abandonados dão um toque de isolamento. As distâncias entre as seis paradas é maior do que no Caminho Francês, obrigando o peregrino a estabelecer um bom planejamento.
Vale a pena fazer um pequeno desvio da rota e seguir até o Castelo de Javier, próximo à Sangüesa. Depois de mais de dez séculos de sua construção, suas muralhas continuam praticamente intactas. Ali nasceu São Francisco Xavier que, juntamente com Santo Ignacio de Loyola, fundou a Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas. Em março, uma multidão participa da javierada, romaria em direção ao castelo, que atualmente abriga um museu.
Cerca de 200 quilômetros após o início, o Caminho Aragonês se une ao Francês na cidade de Puente La Reina, e ambos se tornam um só até Compostela.

Via de la Plata

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A alta torre construída pelos mouros permanece de pé na Catedral de Sevilla

Com mais de mil quilômetros, a Via de la Plata é a mais longa, cruzando a Espanha de norte a sul. Chamada de “a coluna vertebral da Ibéria”, metade do caminho segue o mesmo itinerário da estrada romana, construída no século 2 antes de Cristo. Chama a atenção como alguns trechos ainda conservam o pavimento original e os milários, colunas de concreto de dois metros de altura que faziam referência ao poder do Império. A Via de la Plata pode se unir ao Caminho Francês em Astorga, ou ao Caminho Português em Ourense. De qualquer forma, essa é a rota com maior número de tesouros culturais e históricos.
O ponto de partida é a Catedral de Sevilha, considerada patrimônio da humanidade pela Unesco. Construída sobre uma antiga mesquita, o templo preservou a Giralda, uma alta torre de arquitetura mourisca. Aliás, a influência moura ainda está presente em outras cidades do trajeto como Salamanca e Granada.

Caminho do Norte ou Litorâneo

José Antonio Gil Menezes/Flickr
O Caminho do Norte segue paralelo ao Mar Cantábrico

Acompanhando o traçado do Mar Cantábrico, no norte da Espanha, o caminho percorre trechos verdes de montanhas, belas praias e aldeias de pescadores. O trajeto começa na Ponte do Rio Santiago, em Irún, no litoral do País Basco, atravessa as regiões praianas da Cantábria e Astúrias, e se envereda pelo interior da Galícia, em um percurso de cerca de 800 quilômetros.
Essa é a rota mais antiga. Na Idade Média, os peregrinos do norte da Europa desembarcavam em vários pontos do litoral norte espanhol para dar início ao percurso a pé até Santiago. São Francisco de Assis trilhou esse caminho em 1214.
Reserve um dia para conhecer o rico acervo de monumentos medievais de San Vicente de Barquera, como a Igreja de Santa Maria dos Anjos  e o Convento de São Luis. Construído no século 8, o Castelo do Rei permanece imponente com suas altas muralhas, que serviam de proteção contra o ataque de normandos e vikings.

Caminho Português

Socpunk/Flickr
Detalhe da estátua da Virgem Peregrina, padroeira da rota portuguesa

O Caminho Português reúne dois itinerários diferentes, a rota central e a do interior, mas ambos cruzam Portugal de um extremo ao outro. Margeando o litoral, a rota central pode começar em Lisboa (cerca de 600 quilômetros) ou no Porto (230 quilômetros) – esta última é a preferida pelos peregrinos. Ela chega ao território espanhol pela Galícia.
A fortaleza de Valença marca o fim do território português e início do Caminho por terras espanholas. Seja qual for o trajeto escolhido, você vai passar pela cidade de Pontevedra, que merece uma demorada visita. Ela reúne um dos mais belos conjuntos históricos e artísticos da Galícia, como a Igreja da Virgem Peregrina, padroeira do Caminho Português.
Segundo a tradição, ela teria guiado alguns peregrinos perdidos até Santiago. Em seu interior, tudo faz referência ao Caminho. O formato do templo é inspirado em uma concha, símbolo dos andarilhos. E a fonte de água benta é uma enorme concha encontrada no Oceano Atlântico

Caminho inglês

José Antonio Gil Martinez/Flickr
Fachada assimétrica da Igreja Santa Maria dos Azougues, em Betanzos

Durante quatro séculos, o Caminho Inglês era o preferido dos peregrinos que vinham do norte da Europa. A rota foi usada, sobretudo, pelos britânicos durante a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, nos séculos 15 e 16. Eles chegavam por mar até a região da Galícia, de onde seguiam a pé até Santiago.
O auge da peregrinação inglesa foi o Ano Santo de 1433, quando cerca de três mil peregrinos desembarcaram em La Coruña. Um século mais tarde, porém, o rei Henrique VIII se divorciou de Catarina de Aragão e rompeu com a Igreja Católica, o que colocou fim à peregrinação inglesa.
Há dois pontos de partida em solo espanhol: Ferrol, distante 110 quilômetros de Compostela, e La Coruña, a apenas 75 quilômetros. As duas rotas se encontram próximo a um vilarejo de Bruma. Faça um pit stop na simpática cidadezinha de Betanzos. Merecem destaque as igrejas medievais Santa Maria do Azougue, com sua fachada assimétrica, e a de São Francisco, considerada monumento nacional da Espanha.